O
Vereador
Manuel Joaquim de Almeida foi vereador
da Câmara poveira no triénio de 1905, 1906 e 1907 e tinha a seu cargo as obras
das freguesias de Balasar, Rates e Laundos(1).
Voltou depois às mesmas funções em 24 de Fevereiro de 1908, mantendo-se até
final do ano.
O exercício deste cargo por Manuel
Joaquim de Almeida terá sido muito proveitoso para a sua terra: “E na edição de
19 de Maio do mesmo ano [de 1907, a Estrela
Povoense] afirma que na Póvoa não se vêem obras de algum valor, nas aldeias
mormente em Balasar e Navais e no seu lugar de Aguçadoura gastam-se rios de
dinheiro em alguns melhoramentos de muito duvidoso interesse”(2).
O que se gastava em Balasar naturalmente
era sobretudo por empenho de Manuel Joaquim de Almeida.
O P.e Leopoldino informa que a velha
ponte de D. Benta “foi substituída pela actual, mandada construir em 1906 pela
Câmara progressista da presidência do prestigioso povoense Dr. António
Silveira, sendo vereador Manuel Joaquim de Almeida, abastado proprietário desta
freguesia, onde faleceu com 54 anos, no dia 3 de Janeiro de 1918”.
Algumas palavras sobre esta ponte e as
suas reconstruções:
As Memórias Paroquiais de 1758, quando
estava ainda vivo Manuel Nunes Rodrigues, informaram que Balasar tinha
“duas pontes de pau, uma no lugar da Igreja, outra no lugar do Casal(3).
A “do lugar da Igreja” corresponderia à
que D. Benta reconstruiu, que ficava próxima da igreja do Matinho… Ruíra muito
antes da reconstrução de 1906. Em 1831, já o visitador deixou escrito(4):
Ordenei ao Juiz
da Freguesia participasse ao Ill.mo Senado da Câmara o estado em que se acha a
ponte de D. Benta, pois que depois da sua ruína estão sofrendo grande
inconveniente os povos que ficam dos lugares de além e no tempo de inverno em
que não podem vir à Igreja nem também serem assistidos e sacramentados nas suas
doenças.
O Juiz da Freguesia devia ser o juiz de
Sob Sino e a Câmara era a de Barcelos.
No Arquivo Municipal há dois projectos
para a ponte de D. Benta, um de 1893 e outro de 1925… Em 1905, uma acta da
Câmara afirma explicitamente que esta ponte ainda continuava de madeira.
A ponte construída em 1906 integrava-se
já no plano modernizador da rede viária. Numa acta camarária, de 29 de Janeiro
desse ano, assinada também por Manuel Joaquim de Almeida, lê-se:
Estrada de
Balasar - Foi presente e devidamente aprovado o projecto de prolongamento da
avenida da ponte sobre o rio d’Este da estrada municipal do Cubo - Estrada Real
número 31 – ao extremo do concelho, no lanço de Santa Cruz ao lugar de Gresufes
da freguesia de Balasar, a fim de para os devidos efeitos ser submetido à
sanção da Excelentíssima Comissão tutelar.
Uma obra como a da ponte implicou
naturalmente a intervenção da Junta e talvez já estivesse a ser tratada ao
tempo de Manuel Boucinhas. A presença na Câmara do vereador balasarense há-de
ter sido também da maior utilidade para despachar as burocracias ligadas à
construção da Igreja Paroquial, embora as actas camarárias não guardem disso
memória(5).
Regedor
Manuel Joaquim de Almeida foi também
regedor. Em Fevereiro de 1910, quando a Igreja Paroquial já estava pronta mas
ainda tinha chegado a República, foi nomeado regedor interino.
Mais significativo é que viesse a ser
regedor efectivo em finais de Outubro, já na República. Nesta data, tinha como
regedor substituto José Fernandes Campos de Sousa(6).
Sem dúvida por causa da sua militância política
recente como vereador e mesmo como regedor, assinou o auto de Proclamação da
República que teve lugar na Póvoa de Varzim em 7 de Outubro de 1910.
Presidente
da Junta
Em finais de 1913, Manuel Joaquim de
Almeida formou uma junta republicana de independentes que derrotou os
democráticos. Estes hão-de ter-lhe feito a vida difícil, mas ele levou por
diante a obra do cemitério, que datou de 1915 no portão.
A eleição de Manuel Joaquim de Almeida
para a Junta deu azo a que Manuel
Cândido dos Santos se lançasse no jornalismo. Pelo menos não lhe conhecemos
colaboração mais antiga. N’O Intransigente de 21 de Dezembro de 1913,
escreveu assim:
Num dos amplos salões do sumptuoso
templo, situado no pitoresco lugar do Senhor da Cruz desta linda freguesia de
Balasar banhada pelo rio Este realizou-se a eleição da Junta à hora
regulamentar, presidindo o ilustre cidadão João de Matos Monteiro.
Com subido critério, Sua Ex.cia
desempenhou com a maior imparcialidade e rectidão o seu espinhoso cargo,
deixando bem gravado no coração de todos os
eleitores independentes. O cidadão
Almeida propôs então, para secretário, António Alves de Sousa e, para
escrutinador, Joaquim Alves de Sousa. […]
O resultado da eleição não podia ser
melhor, pois que correu sem mais algum conflito, ficando vencedora a lista
independente com uma maioria de 30 votos, isto é, a lista independentes, 65
votos, todos os candidatos, e a democrática, 35, dois dos candidatos e os
restantes 33 votos, entrando neste número a lista do presidente desta
assembleia.
Joaquim Alves de Sousa era o professor
primário.
O Lino Ferreira é escolhido para
secretário dos democráticos, o que significa que também lhe eram reconhecidas
algumas qualidades de escrita. De facto, ele terá sido algumas vezes
correspondente da sua freguesia.
A obra mais saliente da Junta presidida
por Manuel Joaquim de Almeida foi sem dúvida a conclusão do cemitério.
Porventura por razões de doença, deixou a Junta em finais de 1917 e faleceu no
ano seguinte.
Aparentemente, a data que mandou gravar
ao cimo dos pilares do portão principal do cemitério, 29-12-1914, indica que
havia um ano que a Junta a que presidia fora eleita.
Este balasarense não terá primado pela
lisura em vários negócios. O próprio terreno em que construiu a casa, ali no
centro de Balasar, seria pertença da Confraria do Senhor da Cruz.
O ex-vereador quis que ela possuísse uma
fachada vistosa, colocando as suas iniciais no aparatoso escudete e ainda, mas
só M.A., naquela espécie de cartela, por cima do portal, onde também registou a
data. De reparar ainda no original remate superior das almofadas do mesmo
portal.
A freguesia tem uma grande dívida para
com este balasarense adoptivo. O seu nome está ligado às obras mais
emblemáticas: a ponte de D. Benta, a Igreja Paroquial e o Cemitério. E deu
ainda grande contributo para melhora a rede viária. Quem pode orgulhar-se de
coisa semelhante?
E há ainda a derrota dos democráticos.
Cândido dos Santos, em 5 de Abril de
1914, emitiu sobre Manuel Joaquim de Almeida a opinião de que “esta freguesia [lhe] deve inumeráveis serviços, pois
que, se não fosse este cidadão, Balasar seria uma das mais reles freguesias do
concelho”. Nenhum outro político da freguesia o igualou.
Imagens de cima para baixo:
Fragmento
superior da primeira página d’O Liberal de 6 de Janeiro de 1905 a
anunciar a entrada em funções da vereação progressista a que pertenceu Manuel
Joaquim de Almeida.
Imponente portão do Cemitério
Paroquial de Balasar, do tempo em que presidiu à Junta de Paróquia Manuel
Joaquim de Almeida.
Ao
fundo do imponente portão do Cemitério vê-se a data de 1915.
Fotografia do cemitério com
a capela tumular da Beata Alexandrina: deve remontar a cerca de 1995. Ainda não
tinha chegado a invasão do mármore.
No
escudete, que é posterior à cartela e já republicano, Manuel Joaquim de Almeida
colocou as três iniciais do nome: MJA.
Cartela com a data na casa de
Manuel Joaquim de Almeida.
As
mais belas cartelas com a data que vimos em Balasar são temporalmente próximas
da de Manuel Joaquim de Almeida. É o caso desta, no Matinho, a mais artística
de todas.
Com
as obras da Ponte de D. Benta, da Igreja Paroquial, do Cemitério, ele deve ter promovido
um fôlego artístico novo na freguesia.
[1] Este autarca não era
balasarense de nascimento.
[2]
SOUTO, Manuel Fernando Faria Souto, “O Abade de Nabais e Rocha Peixoto”,
Boletim Cultural Póvoa de Varzim,
vol. 44, 2010, página 138.
[3] Ainda há pessoas vivas que
recordam o tempo em que a ponte da Traquinada era de madeira.
[4] Franklin Neiva Soares,
“Subsídios para a história de Santa Eulália de Balasar”, nota 55 da página 80,
do Boletim Cultural Póvoa de Varzim,
vol. XV, nº 1, 1976.
[5] Alguém chegou a afirmar que Manuel Joaquim de
Almeida foi o “principal impulsor” da construção da Igreja Paroquial.
[6]
Cremos que se trata do irmão do pároco e tesoureiro das obras da igreja; veio a
ser presidente da Junta entre 1923 e 1925. Pelo casamento que fez com uma
Pratinha, tornou-se o homem mais abastado de Balasar. Em 1926, construiu um
imponente jazigo.
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