terça-feira, 6 de novembro de 2012

Manuel Joaquim da Almeida, vereador progressista e presidente da Junta


O Vereador

Manuel Joaquim de Almeida foi vereador da Câmara poveira no triénio de 1905, 1906 e 1907 e tinha a seu cargo as obras das freguesias de Balasar, Rates e Laundos(1). Voltou depois às mesmas funções em 24 de Fevereiro de 1908, mantendo-se até final do ano.
O exercício deste cargo por Manuel Joaquim de Almeida terá sido muito proveitoso para a sua terra: “E na edição de 19 de Maio do mesmo ano [de 1907, a Estrela Povoense] afirma que na Póvoa não se vêem obras de algum valor, nas aldeias mormente em Balasar e Navais e no seu lugar de Aguçadoura gastam-se rios de dinheiro em alguns melhoramentos de muito duvidoso interesse”(2).
O que se gastava em Balasar naturalmente era sobretudo por empenho de Manuel Joaquim de Almeida.
O P.e Leopoldino informa que a velha ponte de D. Benta “foi substituída pela actual, mandada construir em 1906 pela Câmara progressista da presidência do prestigioso povoense Dr. António Silveira, sendo vereador Manuel Joaquim de Almeida, abastado proprietário desta freguesia, onde faleceu com 54 anos, no dia 3 de Janeiro de 1918”.
Algumas palavras sobre esta ponte e as suas reconstruções:
As Memórias Paroquiais de 1758, quando estava ainda vivo Manuel Nunes Rodrigues, informaram que Balasar tinha “duas pontes de pau, uma no lugar da Igreja, outra no lugar do Casal(3).
A “do lugar da Igreja” corresponderia à que D. Benta reconstruiu, que ficava próxima da igreja do Matinho… Ruíra muito antes da reconstrução de 1906. Em 1831, já o visitador deixou escrito(4):

Ordenei ao Juiz da Freguesia participasse ao Ill.mo Senado da Câmara o estado em que se acha a ponte de D. Benta, pois que depois da sua ruína estão sofrendo grande inconveniente os povos que ficam dos lugares de além e no tempo de inverno em que não podem vir à Igreja nem também serem assistidos e sacramentados nas suas doenças.

O Juiz da Freguesia devia ser o juiz de Sob Sino e a Câmara era a de Barcelos.
No Arquivo Municipal há dois projectos para a ponte de D. Benta, um de 1893 e outro de 1925… Em 1905, uma acta da Câmara afirma explicitamente que esta ponte ainda continuava de madeira.
A ponte construída em 1906 integrava-se já no plano modernizador da rede viária. Numa acta camarária, de 29 de Janeiro desse ano, assinada também por Manuel Joaquim de Almeida, lê-se:

Estrada de Balasar - Foi presente e devidamente aprovado o projecto de prolongamento da avenida da ponte sobre o rio d’Este da estrada municipal do Cubo - Estrada Real número 31 – ao extremo do concelho, no lanço de Santa Cruz ao lugar de Gresufes da freguesia de Balasar, a fim de para os devidos efeitos ser submetido à sanção da Excelentíssima Comissão tutelar.

Uma obra como a da ponte implicou naturalmente a intervenção da Junta e talvez já estivesse a ser tratada ao tempo de Manuel Boucinhas. A presença na Câmara do vereador balasarense há-de ter sido também da maior utilidade para despachar as burocracias ligadas à construção da Igreja Paroquial, embora as actas camarárias não guardem disso memória(5).

Regedor

Manuel Joaquim de Almeida foi também regedor. Em Fevereiro de 1910, quando a Igreja Paroquial já estava pronta mas ainda tinha chegado a República, foi nomeado regedor interino.
Mais significativo é que viesse a ser regedor efectivo em finais de Outubro, já na República. Nesta data, tinha como regedor substituto José Fernandes Campos de Sousa(6).
Sem dúvida por causa da sua militância política recente como vereador e mesmo como regedor, assinou o auto de Proclamação da República que teve lugar na Póvoa de Varzim em 7 de Outubro de 1910.

Presidente da Junta

Em finais de 1913, Manuel Joaquim de Almeida formou uma junta republicana de independentes que derrotou os democráticos. Estes hão-de ter-lhe feito a vida difícil, mas ele levou por diante a obra do cemitério, que datou de 1915 no portão.
A eleição de Manuel Joaquim de Almeida para a Junta deu azo a que Manuel Cândido dos Santos se lançasse no jornalismo. Pelo menos não lhe conhecemos colaboração mais antiga. N’O Intransigente de 21 de Dezembro de 1913, escreveu assim:

Num dos amplos salões do sumptuoso templo, situado no pitoresco lugar do Senhor da Cruz desta linda freguesia de Balasar banhada pelo rio Este realizou-se a eleição da Junta à hora regulamentar, presidindo o ilustre cidadão João de Matos Monteiro.
Com subido critério, Sua Ex.cia desempenhou com a maior imparcialidade e rectidão o seu espinhoso cargo, deixando bem gravado no coração de todos os
eleitores independentes. O cidadão Almeida propôs então, para secretário, António Alves de Sousa e, para escrutinador, Joaquim Alves de Sousa. […]
O resultado da eleição não podia ser melhor, pois que correu sem mais algum conflito, ficando vencedora a lista independente com uma maioria de 30 votos, isto é, a lista independentes, 65 votos, todos os candidatos, e a democrática, 35, dois dos candidatos e os restantes 33 votos, entrando neste número a lista do presidente desta assembleia.

Joaquim Alves de Sousa era o professor primário.
O Lino Ferreira é escolhido para secretário dos democráticos, o que significa que também lhe eram reconhecidas algumas qualidades de escrita. De facto, ele terá sido algumas vezes correspondente da sua freguesia.
A obra mais saliente da Junta presidida por Manuel Joaquim de Almeida foi sem dúvida a conclusão do cemitério. Porventura por razões de doença, deixou a Junta em finais de 1917 e faleceu no ano seguinte.
Aparentemente, a data que mandou gravar ao cimo dos pilares do portão principal do cemitério, 29-12-1914, indica que havia um ano que a Junta a que presidia fora eleita.
Este balasarense não terá primado pela lisura em vários negócios. O próprio terreno em que construiu a casa, ali no centro de Balasar, seria pertença da Confraria do Senhor da Cruz.
O ex-vereador quis que ela possuísse uma fachada vistosa, colocando as suas iniciais no aparatoso escudete e ainda, mas só M.A., naquela espécie de cartela, por cima do portal, onde também registou a data. De reparar ainda no original remate superior das almofadas do mesmo portal.


A freguesia tem uma grande dívida para com este balasarense adoptivo. O seu nome está ligado às obras mais emblemáticas: a ponte de D. Benta, a Igreja Paroquial e o Cemitério. E deu ainda grande contributo para melhora a rede viária. Quem pode orgulhar-se de coisa semelhante?
E há ainda a derrota dos democráticos.
Cândido dos Santos, em 5 de Abril de 1914, emitiu sobre Manuel Joaquim de Almeida a opinião de que “esta freguesia [lhe] deve inumeráveis serviços, pois que, se não fosse este cidadão, Balasar seria uma das mais reles freguesias do concelho”. Nenhum outro político da freguesia o igualou.

Imagens de cima para baixo:
Fragmento superior da primeira página d’O Liberal de 6 de Janeiro de 1905 a anunciar a entrada em funções da vereação progressista a que pertenceu Manuel Joaquim de Almeida.
Imponente portão do Cemitério Paroquial de Balasar, do tempo em que presidiu à Junta de Paróquia Manuel Joaquim de Almeida.
Ao fundo do imponente portão do Cemitério vê-se a data de 1915.
Fotografia do cemitério com a capela tumular da Beata Alexandrina: deve remontar a cerca de 1995. Ainda não tinha chegado a invasão do mármore.
No escudete, que é posterior à cartela e já republicano, Manuel Joaquim de Almeida colocou as três iniciais do nome: MJA.
Cartela com a data na casa de Manuel Joaquim de Almeida.
As mais belas cartelas com a data que vimos em Balasar são temporalmente próximas da de Manuel Joaquim de Almeida. É o caso desta, no Matinho, a mais artística de todas.
Com as obras da Ponte de D. Benta, da Igreja Paroquial, do Cemitério, ele deve ter promovido um fôlego artístico novo na freguesia.




[1] Este autarca não era balasarense de nascimento.
[2] SOUTO, Manuel Fernando Faria Souto, “O Abade de Nabais e Rocha Peixoto”, Boletim Cultural Póvoa de Varzim, vol. 44, 2010, página 138.
[3] Ainda há pessoas vivas que recordam o tempo em que a ponte da Traquinada era de madeira.
[4] Franklin Neiva Soares, “Subsídios para a história de Santa Eulália de Balasar”, nota 55 da página 80, do Boletim Cultural Póvoa de Varzim, vol. XV, nº 1, 1976.
[5] Alguém chegou a afirmar que Manuel Joaquim de Almeida foi o “principal impulsor” da construção da Igreja Paroquial.
[6] Cremos que se trata do irmão do pároco e tesoureiro das obras da igreja; veio a ser presidente da Junta entre 1923 e 1925. Pelo casamento que fez com uma Pratinha, tornou-se o homem mais abastado de Balasar. Em 1926, construiu um imponente jazigo.

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